de natal

"Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte "

poetinha

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Tô entalada, vem pegar.


            – Sabe o que é? É o que construí para você, quero dizer, foi para mim, mas é seu.
            – E o que é, Julieta?
            – Eu num sei dizer, mas quando quiser venha pegar.
            – Pegar o que? É de comer?
           – Ai, homem. Não é desses negócios de encher a barriga; é mais como os homens das palavras dizem de encher a alma, sabe?
            – Não sei, não.
            – É de sentir um aperto dentro da gente, de querer colocar pra fora. Não, não... é de querer dar isso pra alguém. Mas dá medo na gente, sabe? Eu só queria que você aceitasse... Mas se você não quiser, apenas veja. Não, não, não... num é de se ver, não.
            – Que diabos é isso que num dá pra ver? Tá doida, é?
            – É que é grande, mas num sei mostrar. Tu nunca sentiu esse bolo entalado na goela, não? É só que eu queria que você viesse um dia pegar...
            Uns segundos em silêncio.
            – Raimundo, você está me ouvindo? Eu não tô louca, não.
            – Eu sei, mas eu tô confuso também.
            – Também? Você também está engasgado?
            – É, eu tô, sim!
            – Vem buscar. Acho que assim isso passa.
            – Não.
            – Olha, se você não vier pegar, eu não sei se vou guardar por muito mais tempo. Num sei o que fazer com esse negócio!
            – E tu acha que eu sei e estou preparado?! Nem vou ver isso; coisa grande e invisível!
            – Você sabe, Raimundo. Você construiu esse negócio na minh’alma; vem pegar o que é meu feito para você.
            – E o que vou fazer com isso?
 – Eu não sei. Quer dizer, eu saberia se fosse de você para mim. Olha, a ligação vai cair, tão acabando as fichas. Vou te esperar mais tarde. Você vem pegar?
            – Num sei. Não, eu vou. É bom que não esteja louca.
            Tum. Tum. Tum. Ecoa na intimidade do silêncio.

julho de 2012.


“Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura.”

Quando acordou quis gritar. Escreveu.
Nunca tinha entendido dessas coisas de poesia, uma vez a patroa disse:
- Julieta, o chico é tão lindo, né? Escreve bonito.
- É sim, patroa.
(sei lá quem é chico pensava)

Quando você foi embora
Os dias pra mim foram tristes demais
Nunca pensei que você
Fizesse a falta que agora me faz
Espero que você decida
E que volte logo pra mim
Mas volte pra mim”

Mas hoje acordou precisada.
Com o coração bicado por um passarinho que queria cantar, mas tava engasgado.
O coração bicava.
O passarinho não gritava.

“Não tô entendendo nada do que eu tô dizendo. Mas como põe pra fora?”
Na tevê um comercial dizia: “acolha o cansaço, prepare pro novo”.
Então tá bom.
Escreve.

“Raimundo, tu me deixou. Tu foi embora. Tu me largou. Raimundo, tu me coisou. Sim, coisou porque eu não sei o que tu fez, mas parece que me levou. Eu não tô aqui, Raimundo. Essa aqui não sou eu. Porque eu não sei quem é a Julieta mais não. Mas hoje doeu mais. Doeu tanto que eu tive que botar pra fora. A patroa disse que tem um homem que escreve bonito e que ele faz as pessoas chorar. Eu não quero isso não, fazer ninguém chorar. Eu só queria matar essa coisa que aperta sempre que olho pra porta e lembro que por baixo dela agora só passa eu.”

- Tu pega esse bilhete e leva. Leva pra longe. Porque tu já levou minha metade embora. Mas agora leva o resto que eu quero renascer.

                                                                                                                                   novembro de 2014




Erika e Fábio.







segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

prot(agonizando) sofrimento

Com os olhos atentos na busca de tudo,
deparando-se constantemente com o nada.
Angústia.
Teto, cama, comida, outros, conversas vazias, músicas tristes.

Os olhos antes amados são fontes de lágrimas constantes.
Sobre viver sem ter um par
Teve inveja dos que são calmos.

Ela que sempre foi a intensa.
Só queria a calmaria.
Ainda bem que você me deixou,
se não sobre o que eu escreveria?
Para quem eu me guardaria?

Você se criou.
Se instalou.
Foi embora.
E agora eu que te crio aqui dentro de mim.

você

E nesse lugar de trocas programadas, 
me programei a não gostar de você.

Você?
O avesso do padrão.
O inverso do almejado.

Você!
Seus olhos
Que souberam me despir
Deixaram-me nua e entregue

Você.
Que completa minha carne
Que preenche meu corpo 
Com torpor
Suor
Com alma


A vida nos faz buracos
A busca é persistente
O desejo é a ambição de tentar apaziguar a dor da vida.
a vida, a busca, a dor, o buraco.
você

para matar você (ou eu?)

Hoje chorei de saudade.
mas então percebi que tinha esquecido de você,
não lembro seu rosto.
as lágrimas caem em ritmo de valsa
Não! Um tango!
Tango que construí pra afogar você.

Quando você foi embora, as lembranças ficaram cinzas e bagunçadas com tantas palavras não ditas, inundadas com as lágrimas que eu não derramei no adeus.

Você não.
Você se derramou e nisso, logo conseguiu evaporar.
E agora fico eu, na minha sublimação mal feita e chorando
Por um desconhecido
Porque sim,
Eu não lembro de você.

Exceto
Das suas costas,
E de como me doeu ver que elas não viraram para um último beijo.

Ah!
Lembro que você baixa a cabeça quando rir.
Baixa? Não sei, não te conheço.

E tem também as lágrimas,
Dessas eu lembro diariamente.
Acho que esqueci dos olhos.
Mas delas ...

A base para toda a confusão, para incompletude de um amor que, como todos, nasceu fadado ao fracasso, mas que foi inundado pela intensidade de águas que choraram ,em horas, a dor de uma vida que nunca vai se concretizar.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

os abraçadores.

As pessoas se dividem em bons e maus abraçadores.
Tem umas que sabem muito bem onde colocar os braços,
mas esquecem do coração.
Tem umas que são treinadas, beijinhos, um afeto velado
e não sabem nem onde fica o coração
Tem umas que mal parecem que têm braços.
Mas que tocam o coração e nos derretem.
São essas as que ficam, 
E ,por isso, gosto muito de pessoas que têm braços curtos
Elas aprenderam a voar pelo coração.




a sorte do poder sofrer

Ainda bem que na vida eu pude sofrer o aprendizado que você me trouxe.
Pude chorar as lágrimas febris da decepção
Pude gozar de um amor que bastava o chão para atingirmos o céu
Partilhamos de tantos adeuses.

Crescemos juntos de tantas lágrimas.
Rimos de tanto sofrer
Choramos de tantas alegrias.
Ainda bem.
Que não agora, mas que um dia nos permitimos nos encontrar.
E de tudo que tivemos, o que mais me toca foi a coragem.
A persistência
Resiliência.

ao encontro.
ao amor.

e é de mágoa.

lágrimas são dores acumuladas.
hoje eu chorei o beijo que você não me deu em junho
lágrimas são dores antecipadas
hoje eu chorei o natal que íamos passar juntos
lágrimas podem ser raiva
hoje eu amaldiçoei a sua covardia
lágrimas podem ser raiva do encontro
que era melhor não ter acontecido
lágrimas são águas que correm
e que me levam pra longe dessa dor.
mas lágrimas podem ser só lágrimas
escorridas no rosto
correndo no pescoço que outrora
foi o lugar que você tanto amou.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

(des)encontros.

- Você é a minha melhor lembrança. Aqueles clichês de "saudade que gosto de ter".
- Eu fugi de você, me escondi. Pensei que se não visse nem sua foto, eu esqueceria. Eu pensava que o problema era eu, o meu amor. Depois achei que fosse você que sempre me pareceu perfeita. E agora eu vejo que era a gente. Onde eu for, sempre poderia haver a gente.
- Poderia, mas não há. Você fugiu.
- Fugi. A felicidade assusta, não acha?
- Acho não. Felicidade engrandece. Agora medo ... separa. Mas nada é horrível como o inacabado. A possibilidade jogada fora. Eu que me desencontrei tanto na vida, aprendi a valorizar os encontros. Espero que um dia tu aprenda.
- Aprendi.
- Que bom.

Não falaram mais nada, existem amores que as palavras não dão conta. Apenas o silêncio.
A possibilidade.

Foram embora.
Tentaram acabar o inacabado ... seria possível?
Depois de tantos desencontros, lágrimas e solitudes acompanhadas, escolhidas e impostas.
Aprenderiam que abrigo só encontravam nos braços um do outro.

ou não.
a vida talvez seja apenas desencontros que nos ajudam a nos encontrar.
no mais, gratidão.


e é de luto.

Os pregos que há tanto foram cravados estavam adaptados, não doíam tanto.
O martelo era insistente. Continuava a a agir com afinco, buscava sangue, lágrimas.
A dor.
Acostumou-se.
Não que não sinta. Mas ri, tenta encontrar sentido.
Adoece.
Resiliente: mas mesmo na física, não volta a ser o mesmo.
-Hoje eu quero morrer. Não consegui.
Mas estava de luto.
Disseram que a vida é leve, paz, natureza, gratidão, amor ... "só agradece".
Esqueceram do prego, do martelo, da dor, da cruz ...

o constante luto de tentar reviver após tantas lutas perdidas.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

papel de carta

Era só mais um dia de entrega, só mais um domingo.

- Tu é bonita.
- (...)
- Que foi? Nunca te disseram isso não?
- Não desse jeito. Tô com vergonha.
- Que coisa hein, menina. Eu tava lá em cima na passarela e vim aqui só porque te vi. Com essa blusa vermelha, mochila vermelha, sorriso branco. Porque tanto vermelho, é promessa é?
- É a cor do grupo.
- Meu nome é Diego.

nunca esqueceu daqueles olhos cor de mel.
mal sabia da furada e do coração que ia ser partido.

- Vem, vou te mostrar uma coisa.
- Posso me afastar do grupo, não.
- Vem menina, conheço o Reginaldo. Vem!
E com essa ordem, a primeira de muitas. Foi. Andou naquelas ruas curvas, cheias de pedras nas quais tanto torceu os pés. Subiram. Desceram. Chegou.
- Tá vendo aquele banco ali? Senta. Vou pegar um negócio.
Sentia-se doida. Não sei onde eu tô, não sei quem é esse menino. Bem, se eu morrer Deus tá vendo que tava fazendo coisa boa. Devo ir pro céu
Voltou.
- Tá aqui.
Um papel de carta com um ursinho, com cheiro bom.
- Valha, que bonito. Porque tu tá me dando isso?
- Deu vontade.
- Só assim?
- Só.
- Tá
- Meu coração disparou quando te vi. Tu é bonita de verdade. E sei lá ... o povo aqui diz que eu não tenho coração.
- Eu não sei o que dizer.
- Obrigado.
- Porque?
- Tu me lembrou que eu tenho um.
- Tô com vergonha. Gostei dos teus olhos.
- Vem. Vou te deixar lá em cima. Vou descer até o centro contigo. Quero que a gente veja o pôr-do-sol junto.
- O pôr-do-sol em cima do morro é lindo.

roda moinho

Domingo a tarde é dia de subir o Moinho. 
Teve um dia que  chovia, quando chegou na praça da estação o povo já tinha subido. 
Puta merda, vou subir o morro sozinha. 
Certo, vamo lá.
Chuva, dessas que doem na pele. Vendo a leste que surgia em sua podridão. A vista mais linda.
- Iai, reginaldo? Tu viu se o povo já subiu? Tô atrás deles.
- Tão bem debaixo da passarela. Tu devia ter vindo pelo cemitério.
- Puta merda.
- Vou contigo.
- Mas tu sabe que eu nunca tinha reparado que isso aqui é bonito. 
- É o que piveta?
- Isso aqui é bonito.
- É sim, má.
- Tu devia vim de noite. Mas o foda é o perigo, mas o céu fica bonito.
- Desde quando vetin olha pra céu?
- Ora mais, o céu tá lá. Bem bonito, besta é quem não vê. Quando a barra tá mais limpa, eu olho pro céu e fico pensando que sou o dono desse céu, dessa praia, desse morro.
- E qual é a graça de ser dono desse morro? Tu sabe que acontece cada desgraceira.
- O moinho ri pra mim.
- Hein? Lombrado é?
- Ele ri. Desde moleque eu tô aqui,é minha casa. E quando eu volto, eu escuto o riso do moinho girando. Deve ser a vida passando.
- Tu devia ser poeta, fala bonito.
- É quem sabe um dia o moinha gira pra mim.
- Que diabo significa moinho?
- E quem é que sabe? Diacho de chuva.

domingo, 19 de outubro de 2014

caleidoscópio

- Arajara, é isso? Diabo de nome. É tão bonitinha, mas olha ... eu vi ela com um homem casado! Acredita, menina? Mas cada um com sua vida né, julgo não.

- Aquela ali? Tá indo pelas trevas. Mas é escolhida de deus. Vai se converter, pelo amor ou pela dor. Já diz a palavra de deus, melhor entrar no céu sem uma perna do que no inferno com duas.

- Jarinha é uma menina ainda. Sabe nada da vida, tadinha. tão fácil de ser enganada. Pra onde chamam ela quer ir. Pensa que o mundo é dela. Tadinha, ainda acredita nas pessoas.

- A Anajara é a mulher mais linda que já vi. Dessas que só é. A gente nunca sabe o que ela tá pensando. Ela só faz. Vai. Manda. Quando a gente dá por si, ela atacou, comeu e foi embora. E agora eu tô aqui, sem o meu pedaço que não é mais meu, porque ela levou.

- A bichinha é sonsa né? Carinha de santa! Me engana não. Ali trepa que só que tá na cara. É dessas que dá de quatro e ainda engole. Esses homem aqui, tá vendo? Comenta tudo dela. Mas rapariga assim mesmo ela num é não. Só trepa com quem ela quer, quando quer ...  sorte a dela.

Ela dorme só de calcinha e com uma blusa de banda de rock que mal sabe o nome do vocalista. Aprendeu que isso impressiona. Gosta mesmo é dessas música de sofrer. Diz pra todo mundo que tá bem. Feliz ... eu acredito nas pessoas, tá? Acreditava nada. Bem, acreditava nela.
Deitada, ouvindo pink floyd, lendo Schopenhauer.
" A solidão é a sorte dos excepcionais"
Sou linda, dizia anajara.
Mas eu queria mesmo é chorar, dizia jarinha.
Eu sou uma fudida, mas pelo menos faço o que eu quero , disse a mulher.



domingo, 12 de outubro de 2014

o mais ridículo

- Sou ridícula.
- Não é não, meu amor.
- Vem cá, tudo que eu tenho em mim é teu também.
- É?
- Lembra daquele primeiro dia?
- De que?
- Não. Você não lembra. Acho que nem tinha me visto. Eu te vi tropeçar lá longe. Você falou um palavrão e riu sozinho. A coisa mais atrapalhada e linda que eu já vi. Sabe, naquele dia eu não soube de nada. Nem imaginei que iria te amar. Eu só senti.
- Sentiu o que, amor?
- Que se eu pudesse, eu morava naquele sorriso.

Abraços.

- A gente é a coisa mais linda do mundo.
- Quando tu chorou a primeira vez no meu colo, eu me senti feliz porque você tava se derramando em mim. Que doido né?
- Você é a vida da minha vida. Faz pulsar. Enquanto a gente tiver amor, a vida há.
- Porque estamos tão melosos?
- Eu sei lá, a gente é só a coisa mais linda do mundo.

Lágrimas
- Vem cá, desculpa.
- Porque? Porque me machucou assim?
- Porque sou um idiota.
- Porque não sumiu?
- Você quer que eu suma?
- Não ... eu morreria.
- Mas eu te machuco. Não quero mais.
- Me abraça.
- Desculpa?
- Não, não consigo.
- O que fazemos?
- Eu vou ficar aqui e morrer mil vezes. Matar dentro de mim o nosso amor. E você vai. Eu te amo. Se cuida.
- Não consigo.
- Tchau, meu amor.
- Tá bem, Vou deixar a porta aberta.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

só acaba.

- Eu te amo.
- Quando sair feche a porta.
- Não entendo ... cadê o amor que você dizia sentir?
- Vai ver as coisas só ... acabam.
- Não, as coisas não acabam assim. Você sabe como tá me partindo? Dói.
- Sim, eu sei.
- Como você tá com isso?
- Sei lá ... normal.
- (...)
- Tá, eu sei me acha uma estúpida.
- Sim, é.
- Eu só não consigo mais entende? Ontem eu acordei, escovei os dentes, tomei banho, dormi, escrevi... e ai lembrei! Era seu aniversário. Quando dei por mim, esqueci sua idade. E me olhei no espelho, tentei pensar em você ... e nada. Eu tinha esquecido do seu sorriso.  E ai eu vi que não te amava mais.
- Esqueceu?
- Sim. A gente se vê todo dia, mas eu percebi que não te enxergava mais. O problema não é você ...
- Ah, nem termine!
- O problema somos nós! Você não vê?
- Nós íamos viajar próximo mês.
- Não vamos mais.
- Simples assim?
- Não, simples nunca é. E pouco sofrido, tampouco. Você não acha que as coisas só ... acabam?
- EU TE ODEIO.
- Odeia não.  Você é uma das melhores partes da minha vida. Foi. Gratidão.
- SUA IDIOTA.
- Feche a porta, quando for sair.

domingo, 28 de setembro de 2014

buraco

" eu gosto mesmo é quando estão dentro de mim"

depois de tantos desarranjos, só conseguia sentir-se suja.


o amor é um jogo de perder. Perder-se. Para isso é preciso permitir-se, deixar-se vulnerável.

- Meu corpo tá um caco, mas meu coração tá inteiro.

TOLA!

de que adianta esse teu coração de gelo, se o mundo tá derretendo e você tá fazendo nada?

"Eu só poderia crer num Deus que soubesse dançar."


em um deus que tivesse corpo, que tivesse quedas, que tivesse compreensão.

Em um deus que fosse ... gente.
Em um deus que fosse ela.
No fundo, ela só queria acreditar nela mesma.

E nessa necessidade de guardar-se, vivia se perdendo dentro.

Certo.
Desisto.
Preciso me dividir.
e está de volta a ceifadora.
agora com olhos atentos
com a boca treinada.
com a garganta banhada


Encontros vazios.

encontros com o nada
encontros com espelho

Grita: " ARRE ONDE HÁ GENTE NESSE MUNDO?"

Olhou o espelho.
Riu.
Eu me amo.


cotidiano

"o mundo é realmente um lugar muito aleatório"
- você tem olhos de ressaca.
- seus olhos são pretensiosos, parecem que querer dizer coisas sábias ... mas sua palavras são ridículas.
- Sabe esse mar, as vezes parece querer dizer tanto. O mundo é louco e a gente tem sorte.
- Porque você é assim? Não para de falar. Experimenta o silêncio, uma vez me disseram que só grandes encontros geram silêncios confortáveis.
- (...)
- Vou embora. Suas verdades me doem.
- Gratidão.

silêncio.


Na volta de um encontro aleatório, com o fim inesperado, com o coração cheio de medo ... ela conseguiu sorrir.
(topic 06)
- Sabe mulher, a vida é doida né? Eu precisei perder uma perna pra saber como as coisas simplesmente têm que ser. Tava eu toda fudida, querendo morrer. E encontrei o meu primeiro namorado no menos apropriado çugar e que até então só me gerou desconforto, o hospital. Nos casamos mês que vem.

Junto das amadas
- Eu demorei tanto pra encontrar pra alguém, e quando encontro é essa droga.
- A vida não é romance. São desencontros que geram mudanças ....
- Não é romance, nem muito menos poesia.
- Sim, ela é uma merda.

"A vida é uma carga pesada; mas não vos mostreis tão contristados. Todos somos jumentos carregados."

uma arquitetura pesada a da vida né? risos.


Sua jumenta, lide com a carga.

Lide com o gosto que você quis engolir.
Com o emponderamento que você deu por que quis.
E que a falta é sua, porque você escolheu o buraco.


só pensava no silêncio que agora é desconfortável.

fale comigo, seu puto!
ou não.
é só mais um deixar.


esses encontros ainda me matam


quarta-feira, 24 de setembro de 2014

espelhos



"De que serve ter o mapa, se o fim está traçado?
De que serve a terra à vista, se o barco está parado?
De que serve ter a chave, se a porta está aberta?
De que servem as palavras, se a casa está deserta?"



Ressentimento. Olhou-se no espelho do passado e viu os golpes e curas que teve na vida. Lembrou-se dos toque indesejados. Do nojo de si mesma. Das vezes que se machucou. Gritou. Chorou. O toque inicial marcou a vida. Tão nova. Machucou-se tanto para não lembrar, queria uma dor pálpavel. Cansada da dor da lembrança de algo que era um nuvem que mal lembrava.
Que dor.
Quantas vezes teve o coração partido para crescer. Achava-se sábia. Achou-se. A vida não era pra ser dificil, uma vez dissseram. Mas era. Para crescer teve que parar de olhar para si e para o outro. Descobriu o entre. O encontro. A arte de "deixar e receber um tanto". 
Lágrimas.
De dor.
De crescer.
O luto. 
Quis tanto morrer, tantas vezes.
Quis tanto viver tudo, sem deixar nada morrer.
Aprendeu o "live and let die"
Deixe ele, deixe você.
Deixe-se.
Ser.
E agora no espelho. Sempre a fascinaram. Quando criança gostava de olhar-se nua. Odiando a si mesma. Sim, gostava de se odiar. Era um ódio direcionado. Sabia a quem odiar. Pensava como seria se fosse outra, nunca entendeu porque cargas d'água teve que nascer naquele corpo, naquela casa, naquela invasão. Demorou pra entender que era alguém também. Sempre achou que não passava dos quinze anos. Por isso, aos treze quis conhecer o mundo. Fugiu. Conheceu tanto que se perdeu. E agora olhando-se no espelho, contemplava o corpo. Seu amigo que há vinte três anos a acompanhava. Sofreram. Aprenderam.

E ela que nunca se sentiu feliz
Ela que que nunca se sentiu triste
Nunca sentira o vazio
Agora se sentia gente.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

(im)possibilidade

"Não sinto nada. Coração gelado"
maldito homem do gelo.

O vazio nunca foi tão silencioso
O silêncio passou a imperar
A vida nunca foi tão calma
Conseguia tocar no abismo
Não se encontrava hora nenhuma e em coisa alguma

encontros vazios
conversas vazias

apertou o coração e não conseguiu chorar
então

"i hurt myself today"

Depois de um período de doces poesias, o silêncio se instalou. Jogou-se ao mar e esperava tudo: emoções, amores, menos isso ... o nada. A possibilidade doía em sua pele. Engrossava, sentia as camadas se formando. Estava se escondendo. E com isso adoeceu. Vômito. Dor. 
A possibilidade... de que?
"Não quero mais brincar disso
Me devolve pra terra, por favor."
Sentia o nariz arder. O novo ar a sufocava. O novo toque, lhe dava ojeriza. Quis tanto chorar, mas os olhos estavam estagnados, os músculos fadigados, o coração ... cadê? Sentou e disse: "você tem que me dizer algo, não suporto esse silêncio"
E não ouviu coisa alguma.
Resolveu se machucar
Coisa alguma

A dor que tinha sido sua amiga por tanto tempo, lhe abandonara.
Agora era ela e a possibilidade.
"mesmo que nada"
Não, é o nada mesmo.
Construa algo!
Faça as pontes!
Cresça.
E sim, sempre vai doer.
mesmo que não doa.

O sábio uma vez disse:
"Angústia é a possibilidade de toda impossibilidade"

"para aprender a criar são necessárias várias mortes"

E eu te digo pequena,

angustie-se
viva
deixe sair
deixe entrar
morra
mas não esqueça que a possibilidade é você.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

dia cinza

as vezes o buraco dá gritos enormes
amanheceu com os olhos cinzas, feito o dia.
"não perca a esperança nas pessoas"
sentia a alma vazar em cada encontro sem nexo
a"solidão somos nós, disfarçados de outros"

Depois de uma noite de trabalho, repleto de encontros com o nada. Resolveu caminhar na praia. Tirou os sapatos, sentia prazer em pisar aquele chão. Gostava de pisar no desconhecido. Um dia acreditou que o desconhecido eram os outros, eram os encontros, era o sexo ... aquilo se tornou tão repetitivo que lhe dava ânsia. Saíra de casa querendo trair, ser livre, envergonhar os pais. Quisera conhecer o mundo. O Outro. Esqueceu-se dela. Em sua ânsia de trair o outro, em se portar adequadamente a fim de lhe atrair esqueceu-se quem era. Usava a vida como palco de suas tragédias auto-programadas, em seus lutos inventados, em amores que eram só seus. Lembrou-se das frases que ouvira durante a noite ... "você é minha" ... "grite que é minha puta" ... "mande em mim". Apercebeu-se que a grande querela que surgia era o pertencimento. Não era o prazer, o gemido, o gozo ... era o dividir-se. Gostavam de mandar, de serem mandados. De estar dentro e ser um. De não ser apenas deles mesmos. E com esse emponderamento sofreu. Não conseguia mais estar ali, passou a ser uma ceifadora. Com seus olhos cinzas, via o vazio daquela busca por divisão. Eles não percebiam, estavam com os olhos fechados, contemplando o delírio da perfeição. Ela quase sentia inveja. Mas antes vinha a leveza do nada.
Olhando para o mar. Bem, agora sim um desconhecido. Atração. A traição agora sim faria sentido. Percebeu que no fim, a traição era para com ela. Esconder-se no outro. Não conseguia mais. Mas o mar ... esse sim a atraía. Com seus olhos cinzas, viu-se ridícula e o mar tão lindo. Sentia-se suja. Tirou a roupa. Não espera-se grandes pudores as 4 da manhã. Nua, cinza, pura. Correu. Foi ao encontro do desconhecido. Agora convencida de que estava realmente traindo alguém.

sábado, 23 de agosto de 2014

sutileza do corte

"Franz tinha mais ou menos doze anos quando a mãe ficara sozinha com ele, porque um dia, inesperadamente, o pai tinha-se ido embora. Franz suspeitou que estava a passar-se qualquer coisa de grave, mas a mãe disfarçou o drama com uma conversa neutra e ponderada para não traumatizar o filho. Foi nesse dia que, ao saírem de casa para dar uma volta pela cidade, Franz percebeu que a mãe tinha dois sapatos desemparceirados.
Ficou aflito e quis preveni-la, mas teve medo de magoá-la. Passou duas horas com na rua sem conseguir despregar os olhos dos seus pés. 
Foi então que começou a fazer uma ideia do que devia ser o sofrimento"

milan kundera

terça-feira, 19 de agosto de 2014

ao encontro.

A vida nos dá umas quedas horríveis. Choros intermináveis. E abraços inefáveis.
Deve ser para que possamos ser gratos pelo levantar.
A vida é mais alegre porque existe seu abraço.
E eu sou grata imensamente à vida que me trouxe você.
Não importa o tempo, o seu abraço sempre vai um lugar confortável para me derramar. 
E o seu ouvido sempre vai ser atento para meus devaneios.
O mundo gira! Giramos! Nos adaptamos. Nos ajustamos um ao outro.
Tão diferentes.
Uma escorpiana com ascendente em sagitário e um leonino com ascendente em leão.
Nesse momento você vai dizer que é besteira.
Agora tá rindo
Conhecemo-nos.
Que sorte a nossa, hein?
Somos diferentes. Tivemos que fazer contratos de amizade. Ajustes tão pequenos perto do nosso encontro.
E o nosso encontro, hein? E o "pra te acompanhar" nunca fez tão sentido.
Nos acompanhamos há quase quatro anos.
Brigamos. 
Choramos.
Sorrimos tanto.
E hoje eu me sinto tão grata por ter você.
Me disseram que amar são apenas provas.
Discordo, acho que é aceitar. É ser.
Somos o amor, meu querido.
E o mundo é pequeno para o nosso abraço, 
para o nosso encontro!

à você, meu amigo.
feliz vida!
gratidão.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

estrada morta

Sonhou que era crucificada, mas quem pregava os pregos era ela.
Sempre usou a dor como espetáculo
A vida como palco
A morte como público
Dançava

Vidros
Espelhos que teimavam em mostrar
Solidão
Cansou de buscar em outros corações o que só o seu poderia dar
Em outros sexos ...
é só sexo
é só amor
são só os olhos.

Viu-se
palavras repetidas que não diziam nada.
Amores inventados que só mostravam a solidão.

Cansou de se despedaçar esperando alguém juntar
o coração cansa.
E os pedaços nunca se colam do mesmo jeito
que bom.

Viu uma montanha. Sentiu medo, sozinha. Sozinha? Porque isso assusta? Sempre esteve.
Emponderou-se disso. Gostou. Olhou os pés descalços e viu. Parecia menor.
Teve coragem. Vontade. Adeus medo! Adeus? Não.
Subiu.
Que estrada torta. Que espinhos de merda! Deixa um pedaço em uma árvore, um pouco em outra ... sobe.
Se perdeu no caminho. Percebeu umas folhas agarradas no cabelo, no corpo ... e quando anoiteceu, viu que as folhas a protegiam do frio.
Sorriu.
Ainda com frio, ainda com medo.
Mas não sozinha.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

sim, isso.

"e pela lei natural dos encontros, eu deixo e recebo um tanto"

as pessoas nos proporcionam coisas incríveis,
faltas imensas.
gostava de chupar de quatro.
adeus, ignomínia.

sentia-se emponderada de algo.
do que ele julgava ter de mais importante.
achavam que gostava do gosto
da haste ereta

só gostava dos Olhos.
famintos.
e no maior momento de lascívia,
só nele.
os viam puros.
entregues.

agora ele é meu, pensava.
se julgava linda
única
ninguém faz isso como eu.

é só um encontro.
é só uma troca
é só um deixar.

no gosto, sentia-se satisfeita.
dos fluídos, só ficaram brancura.
da boca, não ficou palavra.
ficou gosto.
ficou encontro.
saudade.

domingo, 10 de agosto de 2014

círculo.

lágrimas são água, que evaporam em febre.

E a lua nunca foi tão linda. Os versos nunca foram tão iguais. A vida nunca foi tão redonda. Cíclica.

Saiu. Pés descalços. Não se julgava amada. Não se julgava nada. E de todas as dores que sentiu, a pior foi não sentir. Apertou o coração. Não saia nada.

risos.

Rodou, rodou, rodou. Sacudiu!

olhos, como odeia aqueles olhos.
Que saudade daqueles malditos olhos.
Que saudade daquele cheiro.
Que saudade daquele sexo.
Sentiu medo, a insegurança.
precisava daqueles braços.

precisava ?
viraram qualquer braços, viraram quaisquer olhos.
qualquer cheiro, qualquer pau.
vulnerável.


A puta.
Ria
Devo ser.
Se pisarem no coração, talvez ele doa.
Se me cortar, talvez eu chore.

E nos olhos deles.
Do vento, do novo, do matador.
Viu a si mesma.

Correu.
O espelho
 A mesma.

A dependência de laços que não diziam nada.
De braços vazios. De palavras secas.

O sexo.
O preenchimento temporário de vácuos que sempre serão vazios.
Gostava.
Era de alguém.
Por um tempo a responsabilidade da sua falta era compartilhada.
Logo depois, o vazio.
Esse buraco é seu, querida.


Ah, mas o vento, corre e faz carícias.
E esse matador, que não me mata.
E puta que pariu, o novo que foi embora.

lágrimas, de água.



domingo, 3 de agosto de 2014

o novo.

E com o coração inteiro, sem marcas, ele  teve medo. Viu o mar. Passava por ele todos os dias. Era seu caminho para o trabalho. Passava. Mas dessa vez sentou em frente e resolveu encarar. De seus sonhos e planos muito bem sólidos e preenchidos, se sentiu vazio. Nada. Ele que nunca sentiu falta do sentir, sentiu a falta. Que angústia.
Angústia. Não sabia o que era isso. Agora sabe. Como dói. Viu o mar, o vai e vem. A imensidão. As ondas nunca iguais, sempre em uma intensidade diferente, nenhuma constância. O risco. Mas parecia tão atrativo. Aquela inconstância. Dali viu a possibilidade. Viu o risco. Sentiu medo.
Levantou-se.
Olhou nos olhos de uma desconhecida. 
Sentiu-se compreendido.
Ele que sempre passava por ali correndo, resolveu andar.
Observar.
Sentir.

Logo aprenderia a voar.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

não morreu

Caminhou.
Sorriu
ainda é cedo.
é não, menino.
passou.

o nada
rien
sozinha
sem choro
sem febre
em paz

com o mundo desabando

sábado, 12 de julho de 2014

fim da personagem

Levantou-se. Viu espelho e chorou. Sentiu vergonha. Estava morta. Sim, morta. Desejou a morte tantas vezes que finalmente morreu. Não chorou, não tinha lágrimas ... não tinha esperança. Ele morreu, foi sufocado. Apertado de cuidado. Largado de amor. Exausto de solidão. 
Tirou a roupa, preferiu ficar nua. Uma lágrima para cada peça. Mas não chorava. Febre, a alma sinalizando o inferno do fim. Ao ficar nua olhou o espelho, se sentiu bonita. Agora sim chorava. Desprotegida, sozinha.
Abriu a porta e foi ao mundo. Sozinha e nua. Quis tanto voltar, quis ouvir. O morto ainda gemia. Lamentou tanto. Mas ao se ver no espelho, nua e sozinha se viu feliz. 
Corajosa. Que piada! 
Tremia de medo, de frio. Sem uma roupa que a protegesse. Exposta. 
Viu tantos olhos mordazes. Tentaram se aproveitar. Correu.
Um desconhecido na esquina diz: deixe entrar, deixe sair ... viva, menina! Corra.
Correu.
Respirou.
Mas quis tanto voltar, olhar para trás.
Andou.
Parou.
Deixou sair.
Gritou.
Deixou entrar.
amou.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

ao fim.

Coisas muito grandes pra esquecer.
escrever.
esclarecer.
entender.

aos detalhes que somem nessa estrada.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

randomica.

Paz.
Dançar.
Desdobrar
É querida, sua vida é sua.
Sua dor ?
É sua.
Dói ?
Desdobra.
Morre não.
Respira que passa.
Ah,
Passa.
Sempre passa.
Fundo do poço.
Cavou
Cavou
Saiu água.
Dessas limpas.
Renovam.
Que dão coragem.
Beijou as águas.
Beijou o espelho.
Nossa!
Beijou a si mesma.
E se amou.
Chorou.
Não dançou
Não com as pernas.
Renasceu.
Das águas.

Sim mulher, eu tou te imitando. Gratidão! Sim você.
a flor.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

dor

Jogaram pedras. Machucou tanto, dessas que ficam. Que se eternizam em palavras. Sentiu-se usada, gastada. Doeu. Dói. Olhou para cima e viu as luzes, gostava de as olhar. Depois que a usavam, a lambuzavam, gozavam. Gotas caiam, gotas brancas, translucidas, água com sal. Misturavam-se. Ela olhava as luzes, se imaginava. Ah, mas ela imaginava. Acreditou. E de tudo, se acreditou. A puta. A filha de uma. Se acreditava. Riam. Ela mesma as vezes ria. E do mar de líquidos se surgia. Acreditada.

terça-feira, 17 de junho de 2014

queda.

Sentou e chorou. 
Desmanchou. 
Derreteu e ferveu.
Afundou e no fundo dançou.
Aprendeu.
Sozinha.
Ela dança.
Mas menina, o mundo tá caindo!
Dança.
Mas menina, tá derretendo!
Dança.
Menina! Você dança sozinha ?
Dança.
E ri.
E pula.
Que vida de merda!
Dança.


 depois caiu e chorou, porque tem coisas que não se recuperam com uma dança.



domingo, 15 de junho de 2014

ventania.

Se viu sozinha. Estava só, sempre. Mas dessa vez se viu.
Procurei em olhos e em telas a si mesma. Encontrou O Outro. Atraente, sagaz, superficial. Encantou-se. Quem era esse estrangeiro, que me rouba sonhos ? Que me cativou. Imperativo, se julgou importante. Ela acreditou. Pensou que fosse e por isso se assustou. Correu, correu, nadou. Em lágrimas. Que não saiam. Lágrimas internas que viram febre congelada. Algo tem que ferver. Resolver encarar de frente. Se você vai me comer, que seja com consentimento. Olhando nos olhos. Olhou. E viu o espelho. Se sentiu tola, tive tanto medo. E em você, enxergo a mim. E riu.
Pode vir, agora eu como você.

ao vento.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Sobre deixar morrer ...

Levo os encontros que tive.  As pessoas que me sorriram. Os desenhos, os tapas, os olhares carinhosos de agradecimento. Eu me transformei a cada encontro. Tornei-me atenta, me senti gente, aprendi a ouvir. Foi me dado a oportunidade de fazer algo por alguém, algo que eu acredito. Eu aprendi a ser com e acreditar nas pessoas.
Levo também a força. Como diria Chico César a força que nunca seca, eu vi nos olhos de muitos uma força, uma vontade de vida (mesmo quando a morte é iminente), o olhar para o filho ou para o espelho e sorrir e dizer que vai ficar bem. As vezes não fica. Como tanto disse, ninguém disse que era é justo, não é?
A força. Bem, essa foi a que mais me cativou. Senti-me tão gente quando peguei nas mãos de uma senhora em que nada dava certo e não lhe disse nada. Eu aprendi que muitas vezes a dor é tanta que não dá para se dizer nada. O olhar é suficiente. É ai onde o inexplicável acontece e que eu me apaixonei pelo que faço. É onde a força aparece. Quando não consegui dizer nada para aquela senhora, eu senti que fiz tanto, não fazendo nada. No final ela me disse, com sorrisos e lágrimas: obrigada pela força! Ali eu percebi a força que nunca seca, pra vida que é tão pouca.
Aprendi a ver além. Aprendi a vez potencial. Afinal, a lata não mostra o corpo que entorta, pra lata ficar reta. E com os meus colegas, com vocês. Eu consegui desdobrar tantas possibilidades, aprendi a colocar meu pessimismo como uma alavanca de sentidos. Pensei: tá certo, tá ruim. Mas vamos fazer o que? Afinal, como ressalta Sartre "O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós". E com isso eu cresci, eu me transformei. Graças a mim e graças a vocês, até porque é através dos outros que nos tornamos nós mesmos.
Pude ver a morte. Não apenas a física , a vi também nos olhos de medo, desesperanças e algumas vezes a aceitando como bem vinda. A morte me tornou algo normal. E por isso muita gente me acha uma pessoa muito estranha. Bem, se você trabalha com pessoas morrendo, não ache que as pessoas vão achar isso muito interessante. No mínimo tocante, mas sempre conte com um: então, vamos falar de coisas felizes. Eu levei um tempo para perceber que o que eu faço é triste para a maioria das pessoas. Eu vejo uma poesia e um amor tão grande em cada pessoa que encontro. Acho que nós, que “gostamos de pessoas morrendo” somos muito loucos. Que sorte a nossa!
Com essa afetação, eu aprendi que da morte, apenas Nascemos, imensamente e hoje me sinto  capaz e sensível.  Eu levo um pouco de cada um. Ao contrário de muitas pessoas (claro, até porque sou eu), eu gosto de despedidas. E quando são doídas, significam que finalizam um ciclo permeado de amor e lembranças boas. E me dói muito ir embora.  Que feliz! Gratidão.


domingo, 25 de maio de 2014

silêncio.

Quando. Tudo faz sentido. Uma lágrima. Sorriso. Um instante. Uma lágrima com sorriso. Um amor que invade. O fim. O deixar viver. Sabendo que vai morrer. O instante. Apenas o silêncio.


fez sentido.

ao amor.


quinta-feira, 1 de maio de 2014

Tango

Ela sentou e chorou. Que sentimento de alivio, uma dor. Saudades de sentir algo. De tantos sentimentos, pensava que deveria ter qualquer coisa que servisse. Encontrou. A dor, a morte. Pena que as pessoas a julgavam tanto. De seu rosto sofrido, do seu rosto pálido, da vida que passou ... conseguiu até sorrir. Finalmente, conseguiu chorar. Olhou suas mãos e sentiu força, olhou pro espelho e viu uma pessoa. GENTE! Puta merda, eu sou gente. Tinha me esquecido. Esqueci da minha humanidade, porra de humanidade. Esqueceu que era gente. E lembrou quando sentiu dor, quando viu a morte. A morte lhe sorriu e lhe despertou vontade de ser gente. Estava cansada de gritar socorro, de se machucar, de se cortar ... pedindo socorro! Socorro! Pediu pra que lhe desse um coração, tinha esquecido que tinha um. Lembrou ao ver a morte, ao ver a dor, que ainda conseguia chorar e sentir. Ao lembrar disso se levantou, chorava e ria. E gritava no meio da rua: SOU GENTE, SOU GENTE. Olhavam-na , a puta enlouqueceu, riam, zombavam. Isso lá é gente, isso é puta. E ao dizer isso calavam-se perguntando-se afinal que porra é ser gente. Ela dançava, cantava e gritava. Histérica, louca,chorando, rindo ... gente.

" tem tanto sentimento, deve ter algum que sirva."
sempre tem.
arnaldo antunes

sexta-feira, 18 de abril de 2014

perto demais



"Where is this love? I can't see it, I can't touch it. I can't feel it. I can hear it. I can hear some words, but I can't do anything with your easy words. "

sangrando.

O amor que morre todos os dias. Quando ele saiu, quando se viu só. Olhou pros lados ... o chão, o nada, um lençol manchado de vergonha. Se levantou, se olhou, se viu. Quem era aquela ? Tão sozinha, tão sem amor. Ela lembra daquele dia como o dia que amor começou a morrer. Nos outros ele foi acabando, nos detalhes, nas palavras rudes, no "andar só, como se andasse em bando". Pingando. Sim, ele foi pingando. Esvaziando. Sangrando. Foi quando percebeu que estava só, mesmo que sempre estivesse sido só. Mas quando ele deixou, quando aqueles olhos cheios de raiva que a maltratavam tanto, foi ai que ela sofreu. Se sentiu estranha, era melhor quando ele a tratava mal e ela se sentia obrigada a ele. Se sentia obrigada ao amor, agora era livre. Livre ? Agora que o amor estava se acabando, se deteriorando. Terminando. E começaram as perdas! Ela percebeu que o amor não morreu ali, morre todos os dias, em cada olhada no espelho. Em cada cliente. Ao olhar para as luzes, tendo um corpo em cima dela e imaginar ... no amor que está sangrando, porque o corpo ... esse já secou.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

pingos vermelhos

Sangue. Morte. Vida. O sangue nos lençóis. A vontade de morrer. A vida que ,infelizmente, continuou. Sempre se perguntou o porquê. Os motivos. Descobriu que não existem, nunca existiram. A vida é isso. Um amontoados de merdas sem sentido, sem motivo, sem porquê. Olhou pro lado, uma mancha de sangue . Uma mancha de vergonha. Uma de mancha de morte condenada a vida. Ah, morrer. Sim. Seria bom. Por isso ele não fez isso. Não vou te matar, não vou te machucar ... repetia. Ah, mas poderia ter matado. Só conseguia pensar na raiva por ele não ter matado. Se levantou. Não olhou para trás. Sabia que não podia mais, sua vida não foi tirada. Só sua vontade de viver. Sentiu que perdeu um pouco da alma. Alma ... alma ? Isso lá deve existir. Ele também não devia ter uma. Os olhos, aqueles olhos. Eram tão tristes. Que ridícula. Estava com pena dele. Mas aqueles olhos .... que olhos. Sangravam. Quanto sangue. Sangue no no lençol, sangue nos olhos ... na alma. A dela estava se destruindo, sangrando. Morrendo. Mas com vida.

You labeled me, I'll label you so I dub thee Unforgiven.

segunda-feira, 24 de março de 2014

crônica roubada

O homem estava em um restaurante com uma mulher, pareciam ter intimidade, deveriam ser marido e mulher. Discutiam, ou melhor, ela discutia, pois somente ela falava, enquanto ele se restringia a abaixar a cabeça e ouvi-la. A mulher, repentinamente, se levantou e atirou bebida no rosto dele. Ele se manteve tranquilo como aquilo não ocorresse com ele. Ela saiu em seguida.O homem se levantou e foi ao banheiro. Não parecia se importar com os comentários das pessoas que o observavam. Ao voltar, estava transformado. Estava feliz, ativo, aliviado. Ele se sentou calmamente, pegou seu celular, discou um número e começou a conversar animadamente. Enquanto falava, sorria e gesticulava com o dedo polegar e minímo. Quando desligou o celular, estava com o rosto sério. ficou minutos na mesma posição, movia-se apenas para olhar o relógio, esperava alguém.Quando um rapaz alto e forte chegou, seu rosto mudou, passou a sorrir de forma involuntária. Levantou-se, cumprimentou o rapaz e o beijou, sem nenhum pudor, na boca. Puseram-se a conversar de mãos dadas. Eram namorados. E eu continuei a tomar meu café.

2008.

XxX

Tudo me parece tão confuso 
neste momento,
já não tenho mais medo da menina que se esconde.

As explicações que eu procuro
encontro-as eventualmente
nos escritos de pessoas desconhecidas.

Não encontro em mim mesma,
motivo algum
para coisa alguma

Mas ainda preciso do sangue que corre,
nas veias de não sei quem
sangue esse que talvez me faça feliz

Com os meus olhos eu te trago pra mim
na imaginação eu me faço feliz
e na realidade eu choro
por um amor que nunca aconteceu.



joguem flores.

Quando acordou, perguntou que horas eram, não costumava dormir em serviço, mas, dessa vez, havia sido diferente, ele parecia olhá-la com carinho. Olhou ao lado, ele não estava mais ali. Foi embora, presumiu. Eles sempre vão, deixam-na só, largada.
Sempre lhe perguntavam porque escolhera viver assim, ela respondia que a vida lhe fez assim. Sabia que não era verdade. Não lutou. Não teve força. Era mais fácil. Nunca entendeu porque as pessoas condenavam o mais fácil, era tão palpável. Como se fosse a única  a viver assim. Mas tinha diferença. O julgamento. O lado do palco. A vida lhe colocou no lado que leva a pedrada.
Vestiu-se calmamente, como se estivesse sendo observada. Esperava que ele, ao menos, tivesse pago a conta. Patife. Ela não queria fazer isso. Por menos de cem, não.  Tinha dito. Mas ele usou suas palavras. Sim, palavras. Maldita força que nunca seca. Disse que gostava dela, que estava com saudade. Acreditou. Não deveria ter ido. Sou uma vadia, fraca, que não sabe sequer ludibriar um homem. As amigas tinham lhe ensinado a roubar. Não conseguia, ainda. Precisa esmagar o amor. Um dia conseguiria.

domingo, 23 de março de 2014

Conversando comigo

"Minhas sensações são cada vez mais doídas. Simples eventos são capazes de acabar comigo, a dor está sendo cada vez mais incitada por mim. Eu crio tragédias inteiras na cabeça e ainda choro por elas. O desprazer para mim é um sentimento cada vez mais atrativo. Hoje eu pensei em como seria se eu levasse várias facadas no caminho da faculdade, eu viria me arrastando para pedir socorro ... mas será que alguém me socorreria ? E porque tantas facadas, se só uma bastava ? Como diria Clarice, talvez seja só a vontade de morrer."

Erika de 18 .

Querida erika de 18 anos, como você sofre. Fique tranquila, sofrimento aduba a alma, hoje você é uma pessoa forte. Engraçado como faz sentido. A morte, o fim, o recomeço. Hoje tudo isso é muito significativo em sua vida. Hoje você aprendeu que não precisa pedir socorro pra ninguém, não precisa morrer pra chamar pra atenção. A morte é diária, se faz presente assim, em cada sorriso. Sim, sorriso. Ah, a tragédia. Todo dia é uma. Tragédia. São coisas bonitas né ? Isso, querida erika, você não perdeu. O gosto pelo o que ninguém vê nada de bonito. Diria até que aumentou. Hoje isso é o seu trabalho. Seu trabalho é abraçar o que vai embora, e contemplar o que nunca mais será visto. E o engraçado é que você vai amar isso. E vai ser feliz! Não o tempo todo, claro. Mas vai dar certo. Você vai mudar a vida a vida de pessoas. E a vontade de morrer, vai ser trocada pelo gosto pelo fim. Não mais vontade, mas desejo. De Viver. E a morte ... é a vida. Por isso, não se mate, erika. Não se mate.

Erika de 22.


"Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.
Não se mate"


um poeta gauche na vida 

Viver e deixar morrer.

no exercício de imaginar morrer.

Aos meus amigos, vou embora com seus sorrisos. Ao meu amor, levo seus olhos que me amaram e suas mãos que me resgataram. Dos meus pais, seus ombros que me carregaram quando desabei. Da vida, levo a possibilidade. Cuidem de sim, como cuidaram de mim. E amem! Façam amor, construam amor e deixem o amor morrer. Se deixem morrer, se deixem viver ... me deixem morrer.
                                                  E amem.
                                             

amém


"Apesar das ruínas e da morte
Onde sempre acabou
Cada ilusão
A força dos meus sonhos é tão forte
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos estão vazias."

diva dos cabelos desarrumados