de natal

"Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte "

poetinha

domingo, 13 de maio de 2018

mas o tempo é acaso precioso

Quando o homem se deita sobre o útero dela, ela é preenchida, cada ato de amor, ter o homem dentro dela, um ato de nascer e renascer, carregar uma criança e carregar um homem. Toda vez que o homem deita em seu útero se renova no desejo de agir, de ser. Mas para uma mulher, o climax não é o nascimento, mas o momento em que o homem descansa dentro dela.

Anaïs Nin



O tempo nos enrosca em voltas imensas e nos coloca em acasos até bonitos. Após anos colegiais, encontraram-se no indecoroso benfica. Bar verde, cigarros acesos, cervejas derramadas, decote mostrando ao que veio. Já saiu de casa com a calcinha de renda, devidamente cuidada, precisamente molhada. Esperava. Algo ou nada. Estava lá. Como poucas vezes: disposta. 

Disposição é artigo raro em mundo dado a pequenos e voláteis encontros. A intensidade brotou com o enroscar de línguas, suspiros em gemidos, mãos apertando o corpo, desejo gritando vontade. Vontade gritando precisão. Precisão que suplica audácia e os colocou nus em frente ao outro em menos de uma hora. 

O encaixe as vezes surge com precisão de inicio. Evento raro. Mas, ocasionalmente, o estar dentro surge como lar. Recipiente que pinga por mais, geme por mais, treme e pulsa por um incessante mais. 

O gozo surgiu como um ápice de súplica por uma eternidade do entrar e sair. 

De quatro encontrou pose. Posição. Lugar de falo. Lugar de puta. Lugar de mulher. Ao rebolar sentiu-se santa. Sentiu-se dona. Percebeu-se domada. Lugar de centro, lugar de fala, lugar de falo.

O gozo. Mais uma vez como vontade incessante.

Sentada encontrou poder. Colocada por cima. Em cima do que queria. "Eu sou uma mulher e hoje eu só quero trepar." É surra de buceta que chama? Surra nada, era carinho, era desordem, era organização. Era vontade de sentir dentro e saber que o papel de colocar dentro era seu. Brincava poderosamente de tirar, botar, sentar, rebolar, colocar, arranhar, beijar, chupar.

O gozo. Cansado e permeado de realização. Realização?! 

Ainda molhada de vontade que pingava aos dedos. Ele posto de desejo que penetrava a alma. Os olhos colocados de deleite. Enseados de voracidade. Mais uma vez dentro, dentro de si. Já nem sabia mais como seria não estar com algo dentro de si, depois de horas de completude entre as pernas. Questionou o tempo ao ver o dia amanhecer em forma de lembrança de uma voraz e loquaz realidade que a coloca em frente ao inevitável fim do gozo.

"Essa noite vai me render texto" - despediu-se. 

O fim que surge nos coloca em frente ao inevitável adeus, mas as vezes este consegue fomentar a poesia.

princesa do meu lugar

Em uma garrafa de cerveja e um cigarro encontrei deus,
Com a percepção do infinito e da grande imensidão
Me alegro.
De tanto mundo, deve haver sim um lugar que me caiba.

Com os desencontros, observou o encontro de si, encontro de águas, de muitas, de indesejados sentimentos que são seus (mas nem sempre). Após o encontro com vários homens que recusavam-se entrar no mar, resolveu que o mergulho haveria de ser com base na solitude. Sozinha iria ao fundo, sozinha retornaria das águas.Renasceria. Como uma madona azul e triunfante, que sabe das incomodas areias que traz nos  pés, das algas penosas que carrega. Modorrenta de si mesma, exausta. Mas retorna, atravessada de suas dores. Carrega consigo o prazer de ser sua. De não precisar caber em lugar nenhum, ela dona de si mesma. Pra ela, basta caber em si.