Levo os encontros que tive.
As pessoas que me sorriram. Os desenhos, os tapas, os olhares carinhosos
de agradecimento. Eu me transformei a cada encontro. Tornei-me atenta, me senti gente, aprendi a ouvir. Foi me dado a oportunidade de fazer algo por
alguém, algo que eu acredito. Eu aprendi a ser com e acreditar nas pessoas.
Levo também a força. Como diria Chico César a força que nunca seca,
eu vi nos olhos de muitos uma força, uma vontade de vida (mesmo quando a morte
é iminente), o olhar para o filho ou para o espelho e sorrir e dizer que vai
ficar bem. As vezes não fica. Como tanto disse, ninguém disse que era é justo,
não é?
A
força. Bem, essa foi a que mais me cativou. Senti-me tão gente quando peguei
nas mãos de uma senhora em que nada dava certo e não lhe disse nada. Eu aprendi
que muitas vezes a dor é tanta que não dá para se dizer nada. O olhar é
suficiente. É ai onde o inexplicável acontece e que eu me apaixonei pelo que
faço. É onde a força aparece. Quando não consegui dizer nada para aquela
senhora, eu senti que fiz tanto, não fazendo nada. No final ela me disse, com
sorrisos e lágrimas: obrigada pela força! Ali eu percebi a força que nunca seca, pra vida que é tão pouca.
Aprendi a ver além. Aprendi a vez potencial. Afinal, a lata não
mostra o corpo que entorta, pra lata ficar reta. E com os meus colegas,
com vocês. Eu consegui desdobrar tantas possibilidades, aprendi a colocar meu
pessimismo como uma alavanca de sentidos. Pensei: tá certo, tá ruim. Mas vamos
fazer o que? Afinal, como ressalta Sartre "O
importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que
os outros fizeram de nós". E com isso eu cresci, eu me transformei. Graças
a mim e graças a vocês, até porque é
através dos outros que nos tornamos nós mesmos.
Pude ver a
morte. Não apenas a física , a vi
também nos olhos de medo, desesperanças e algumas vezes a aceitando como bem
vinda. A morte me tornou algo normal. E por isso muita gente me acha uma pessoa
muito estranha. Bem, se você trabalha com pessoas morrendo, não ache que as
pessoas vão achar isso muito interessante. No mínimo tocante, mas sempre conte
com um: então, vamos falar de coisas felizes. Eu levei um tempo para perceber
que o que eu faço é triste para a maioria das pessoas. Eu vejo uma poesia e um
amor tão grande em cada pessoa que encontro. Acho que nós, que “gostamos de
pessoas morrendo” somos muito loucos. Que sorte a nossa!
Com essa afetação, eu aprendi que da morte, apenas Nascemos, imensamente e hoje me sinto capaz e sensível. Eu levo um pouco de cada
um. Ao contrário de muitas pessoas (claro, até porque sou eu), eu gosto de
despedidas. E quando são doídas, significam que finalizam um ciclo permeado de
amor e lembranças boas. E me dói muito ir embora. Que feliz! Gratidão.