de natal

"Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte "

poetinha

sexta-feira, 20 de junho de 2014

randomica.

Paz.
Dançar.
Desdobrar
É querida, sua vida é sua.
Sua dor ?
É sua.
Dói ?
Desdobra.
Morre não.
Respira que passa.
Ah,
Passa.
Sempre passa.
Fundo do poço.
Cavou
Cavou
Saiu água.
Dessas limpas.
Renovam.
Que dão coragem.
Beijou as águas.
Beijou o espelho.
Nossa!
Beijou a si mesma.
E se amou.
Chorou.
Não dançou
Não com as pernas.
Renasceu.
Das águas.

Sim mulher, eu tou te imitando. Gratidão! Sim você.
a flor.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

dor

Jogaram pedras. Machucou tanto, dessas que ficam. Que se eternizam em palavras. Sentiu-se usada, gastada. Doeu. Dói. Olhou para cima e viu as luzes, gostava de as olhar. Depois que a usavam, a lambuzavam, gozavam. Gotas caiam, gotas brancas, translucidas, água com sal. Misturavam-se. Ela olhava as luzes, se imaginava. Ah, mas ela imaginava. Acreditou. E de tudo, se acreditou. A puta. A filha de uma. Se acreditava. Riam. Ela mesma as vezes ria. E do mar de líquidos se surgia. Acreditada.

terça-feira, 17 de junho de 2014

queda.

Sentou e chorou. 
Desmanchou. 
Derreteu e ferveu.
Afundou e no fundo dançou.
Aprendeu.
Sozinha.
Ela dança.
Mas menina, o mundo tá caindo!
Dança.
Mas menina, tá derretendo!
Dança.
Menina! Você dança sozinha ?
Dança.
E ri.
E pula.
Que vida de merda!
Dança.


 depois caiu e chorou, porque tem coisas que não se recuperam com uma dança.



domingo, 15 de junho de 2014

ventania.

Se viu sozinha. Estava só, sempre. Mas dessa vez se viu.
Procurei em olhos e em telas a si mesma. Encontrou O Outro. Atraente, sagaz, superficial. Encantou-se. Quem era esse estrangeiro, que me rouba sonhos ? Que me cativou. Imperativo, se julgou importante. Ela acreditou. Pensou que fosse e por isso se assustou. Correu, correu, nadou. Em lágrimas. Que não saiam. Lágrimas internas que viram febre congelada. Algo tem que ferver. Resolver encarar de frente. Se você vai me comer, que seja com consentimento. Olhando nos olhos. Olhou. E viu o espelho. Se sentiu tola, tive tanto medo. E em você, enxergo a mim. E riu.
Pode vir, agora eu como você.

ao vento.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Sobre deixar morrer ...

Levo os encontros que tive.  As pessoas que me sorriram. Os desenhos, os tapas, os olhares carinhosos de agradecimento. Eu me transformei a cada encontro. Tornei-me atenta, me senti gente, aprendi a ouvir. Foi me dado a oportunidade de fazer algo por alguém, algo que eu acredito. Eu aprendi a ser com e acreditar nas pessoas.
Levo também a força. Como diria Chico César a força que nunca seca, eu vi nos olhos de muitos uma força, uma vontade de vida (mesmo quando a morte é iminente), o olhar para o filho ou para o espelho e sorrir e dizer que vai ficar bem. As vezes não fica. Como tanto disse, ninguém disse que era é justo, não é?
A força. Bem, essa foi a que mais me cativou. Senti-me tão gente quando peguei nas mãos de uma senhora em que nada dava certo e não lhe disse nada. Eu aprendi que muitas vezes a dor é tanta que não dá para se dizer nada. O olhar é suficiente. É ai onde o inexplicável acontece e que eu me apaixonei pelo que faço. É onde a força aparece. Quando não consegui dizer nada para aquela senhora, eu senti que fiz tanto, não fazendo nada. No final ela me disse, com sorrisos e lágrimas: obrigada pela força! Ali eu percebi a força que nunca seca, pra vida que é tão pouca.
Aprendi a ver além. Aprendi a vez potencial. Afinal, a lata não mostra o corpo que entorta, pra lata ficar reta. E com os meus colegas, com vocês. Eu consegui desdobrar tantas possibilidades, aprendi a colocar meu pessimismo como uma alavanca de sentidos. Pensei: tá certo, tá ruim. Mas vamos fazer o que? Afinal, como ressalta Sartre "O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós". E com isso eu cresci, eu me transformei. Graças a mim e graças a vocês, até porque é através dos outros que nos tornamos nós mesmos.
Pude ver a morte. Não apenas a física , a vi também nos olhos de medo, desesperanças e algumas vezes a aceitando como bem vinda. A morte me tornou algo normal. E por isso muita gente me acha uma pessoa muito estranha. Bem, se você trabalha com pessoas morrendo, não ache que as pessoas vão achar isso muito interessante. No mínimo tocante, mas sempre conte com um: então, vamos falar de coisas felizes. Eu levei um tempo para perceber que o que eu faço é triste para a maioria das pessoas. Eu vejo uma poesia e um amor tão grande em cada pessoa que encontro. Acho que nós, que “gostamos de pessoas morrendo” somos muito loucos. Que sorte a nossa!
Com essa afetação, eu aprendi que da morte, apenas Nascemos, imensamente e hoje me sinto  capaz e sensível.  Eu levo um pouco de cada um. Ao contrário de muitas pessoas (claro, até porque sou eu), eu gosto de despedidas. E quando são doídas, significam que finalizam um ciclo permeado de amor e lembranças boas. E me dói muito ir embora.  Que feliz! Gratidão.