Teve um dia que chovia, quando chegou na praça da estação o povo já tinha subido.
Puta merda, vou subir o morro sozinha.
Certo, vamo lá.
Chuva, dessas que doem na pele. Vendo a leste que surgia em sua podridão. A vista mais linda.
- Iai, reginaldo? Tu viu se o povo já subiu? Tô atrás deles.
- Tão bem debaixo da passarela. Tu devia ter vindo pelo cemitério.
- Puta merda.
- Vou contigo.
- Mas tu sabe que eu nunca tinha reparado que isso aqui é bonito.
- É o que piveta?
- Isso aqui é bonito.
- É sim, má.
- Tu devia vim de noite. Mas o foda é o perigo, mas o céu fica bonito.
- Desde quando vetin olha pra céu?
- Ora mais, o céu tá lá. Bem bonito, besta é quem não vê. Quando a barra tá mais limpa, eu olho pro céu e fico pensando que sou o dono desse céu, dessa praia, desse morro.
- E qual é a graça de ser dono desse morro? Tu sabe que acontece cada desgraceira.
- O moinho ri pra mim.
- Hein? Lombrado é?
- Ele ri. Desde moleque eu tô aqui,é minha casa. E quando eu volto, eu escuto o riso do moinho girando. Deve ser a vida passando.
- Tu devia ser poeta, fala bonito.
- É quem sabe um dia o moinha gira pra mim.
- Que diabo significa moinho?
- E quem é que sabe? Diacho de chuva.
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