de natal

"Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte "

poetinha

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

espelhos



"De que serve ter o mapa, se o fim está traçado?
De que serve a terra à vista, se o barco está parado?
De que serve ter a chave, se a porta está aberta?
De que servem as palavras, se a casa está deserta?"



Ressentimento. Olhou-se no espelho do passado e viu os golpes e curas que teve na vida. Lembrou-se dos toque indesejados. Do nojo de si mesma. Das vezes que se machucou. Gritou. Chorou. O toque inicial marcou a vida. Tão nova. Machucou-se tanto para não lembrar, queria uma dor pálpavel. Cansada da dor da lembrança de algo que era um nuvem que mal lembrava.
Que dor.
Quantas vezes teve o coração partido para crescer. Achava-se sábia. Achou-se. A vida não era pra ser dificil, uma vez dissseram. Mas era. Para crescer teve que parar de olhar para si e para o outro. Descobriu o entre. O encontro. A arte de "deixar e receber um tanto". 
Lágrimas.
De dor.
De crescer.
O luto. 
Quis tanto morrer, tantas vezes.
Quis tanto viver tudo, sem deixar nada morrer.
Aprendeu o "live and let die"
Deixe ele, deixe você.
Deixe-se.
Ser.
E agora no espelho. Sempre a fascinaram. Quando criança gostava de olhar-se nua. Odiando a si mesma. Sim, gostava de se odiar. Era um ódio direcionado. Sabia a quem odiar. Pensava como seria se fosse outra, nunca entendeu porque cargas d'água teve que nascer naquele corpo, naquela casa, naquela invasão. Demorou pra entender que era alguém também. Sempre achou que não passava dos quinze anos. Por isso, aos treze quis conhecer o mundo. Fugiu. Conheceu tanto que se perdeu. E agora olhando-se no espelho, contemplava o corpo. Seu amigo que há vinte três anos a acompanhava. Sofreram. Aprenderam.

E ela que nunca se sentiu feliz
Ela que que nunca se sentiu triste
Nunca sentira o vazio
Agora se sentia gente.

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