de natal

"Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte "

poetinha

segunda-feira, 24 de março de 2014

crônica roubada

O homem estava em um restaurante com uma mulher, pareciam ter intimidade, deveriam ser marido e mulher. Discutiam, ou melhor, ela discutia, pois somente ela falava, enquanto ele se restringia a abaixar a cabeça e ouvi-la. A mulher, repentinamente, se levantou e atirou bebida no rosto dele. Ele se manteve tranquilo como aquilo não ocorresse com ele. Ela saiu em seguida.O homem se levantou e foi ao banheiro. Não parecia se importar com os comentários das pessoas que o observavam. Ao voltar, estava transformado. Estava feliz, ativo, aliviado. Ele se sentou calmamente, pegou seu celular, discou um número e começou a conversar animadamente. Enquanto falava, sorria e gesticulava com o dedo polegar e minímo. Quando desligou o celular, estava com o rosto sério. ficou minutos na mesma posição, movia-se apenas para olhar o relógio, esperava alguém.Quando um rapaz alto e forte chegou, seu rosto mudou, passou a sorrir de forma involuntária. Levantou-se, cumprimentou o rapaz e o beijou, sem nenhum pudor, na boca. Puseram-se a conversar de mãos dadas. Eram namorados. E eu continuei a tomar meu café.

2008.

XxX

Tudo me parece tão confuso 
neste momento,
já não tenho mais medo da menina que se esconde.

As explicações que eu procuro
encontro-as eventualmente
nos escritos de pessoas desconhecidas.

Não encontro em mim mesma,
motivo algum
para coisa alguma

Mas ainda preciso do sangue que corre,
nas veias de não sei quem
sangue esse que talvez me faça feliz

Com os meus olhos eu te trago pra mim
na imaginação eu me faço feliz
e na realidade eu choro
por um amor que nunca aconteceu.



joguem flores.

Quando acordou, perguntou que horas eram, não costumava dormir em serviço, mas, dessa vez, havia sido diferente, ele parecia olhá-la com carinho. Olhou ao lado, ele não estava mais ali. Foi embora, presumiu. Eles sempre vão, deixam-na só, largada.
Sempre lhe perguntavam porque escolhera viver assim, ela respondia que a vida lhe fez assim. Sabia que não era verdade. Não lutou. Não teve força. Era mais fácil. Nunca entendeu porque as pessoas condenavam o mais fácil, era tão palpável. Como se fosse a única  a viver assim. Mas tinha diferença. O julgamento. O lado do palco. A vida lhe colocou no lado que leva a pedrada.
Vestiu-se calmamente, como se estivesse sendo observada. Esperava que ele, ao menos, tivesse pago a conta. Patife. Ela não queria fazer isso. Por menos de cem, não.  Tinha dito. Mas ele usou suas palavras. Sim, palavras. Maldita força que nunca seca. Disse que gostava dela, que estava com saudade. Acreditou. Não deveria ter ido. Sou uma vadia, fraca, que não sabe sequer ludibriar um homem. As amigas tinham lhe ensinado a roubar. Não conseguia, ainda. Precisa esmagar o amor. Um dia conseguiria.

domingo, 23 de março de 2014

Conversando comigo

"Minhas sensações são cada vez mais doídas. Simples eventos são capazes de acabar comigo, a dor está sendo cada vez mais incitada por mim. Eu crio tragédias inteiras na cabeça e ainda choro por elas. O desprazer para mim é um sentimento cada vez mais atrativo. Hoje eu pensei em como seria se eu levasse várias facadas no caminho da faculdade, eu viria me arrastando para pedir socorro ... mas será que alguém me socorreria ? E porque tantas facadas, se só uma bastava ? Como diria Clarice, talvez seja só a vontade de morrer."

Erika de 18 .

Querida erika de 18 anos, como você sofre. Fique tranquila, sofrimento aduba a alma, hoje você é uma pessoa forte. Engraçado como faz sentido. A morte, o fim, o recomeço. Hoje tudo isso é muito significativo em sua vida. Hoje você aprendeu que não precisa pedir socorro pra ninguém, não precisa morrer pra chamar pra atenção. A morte é diária, se faz presente assim, em cada sorriso. Sim, sorriso. Ah, a tragédia. Todo dia é uma. Tragédia. São coisas bonitas né ? Isso, querida erika, você não perdeu. O gosto pelo o que ninguém vê nada de bonito. Diria até que aumentou. Hoje isso é o seu trabalho. Seu trabalho é abraçar o que vai embora, e contemplar o que nunca mais será visto. E o engraçado é que você vai amar isso. E vai ser feliz! Não o tempo todo, claro. Mas vai dar certo. Você vai mudar a vida a vida de pessoas. E a vontade de morrer, vai ser trocada pelo gosto pelo fim. Não mais vontade, mas desejo. De Viver. E a morte ... é a vida. Por isso, não se mate, erika. Não se mate.

Erika de 22.


"Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.
Não se mate"


um poeta gauche na vida 

Viver e deixar morrer.

no exercício de imaginar morrer.

Aos meus amigos, vou embora com seus sorrisos. Ao meu amor, levo seus olhos que me amaram e suas mãos que me resgataram. Dos meus pais, seus ombros que me carregaram quando desabei. Da vida, levo a possibilidade. Cuidem de sim, como cuidaram de mim. E amem! Façam amor, construam amor e deixem o amor morrer. Se deixem morrer, se deixem viver ... me deixem morrer.
                                                  E amem.
                                             

amém


"Apesar das ruínas e da morte
Onde sempre acabou
Cada ilusão
A força dos meus sonhos é tão forte
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos estão vazias."

diva dos cabelos desarrumados