de natal

"Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte "

poetinha

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

o abusivo

"Til you're standing in my shoes
I don't wanna hear a thing from you"

ele nunca ousou.



O homem que não entrava no mar. O prescrutava com afinco, analisava cada detalhe com o seus olhos atentos de julgamento. Com o budismo limitador de liberdade, buscava o caminho do meio que passava por cima dos anseios dela. Amava o seu poder. O poder que a palavra fornecia, capaz de cercear, matar, fazer sofrer, definhar.
Do poder abusava.
O abusivo.

Jogava com a culpa dela, com o prazer de ver o escorpião arrancar sua própria vida despejando seu veneno ao nada.

"Você nunca será nada melhor, do que ter o prazer de ser minha."

"A sua vida foi dada por mim."

Ela não via sentido. Obedecia. Acreditava. Enganada pela culpa do abuso.
Um a roubou a coragem, o outro a alma.
Pulava conforme a vida a exigia, corria conforme a existência a obrigava. Respirava nos tons que ele mandava. Comia no formato que ele a coagia. Uma vida que tinha como base a coerção. O medo.

"Eu já morri, eu já sofri, eu apanhei, abusaram de mim. Tanto. Mais do que um corpo de um metro e sessenta e três poderia permitir, mais do que um coração fraco, um estômago gasto e um sistema respiratório defeituoso poderia suportar. Os cortes eu levarei sempre comigo. Metafóricos. Físicos. Escondidos. Você nunca me viu. Você enxergou o que queria. Você nunca viu os cortes que a ansiedade da culpa me fizeram causar em mim mesma. Na minha pele. Na minha nojenta pele. Que suportou aqueles toques horríveis, que suportou a culpa, o suor, o medo ... que suportou você. Vocês. Os abusadores."



Nenhum comentário:

Postar um comentário